Que venham as férias, pois não mais aguento toda a correria do dia-a-dia.
Cobranças, lembranças, esquecemo-nos de ser crianças.
Corri de acordo com a linha moralista das grandes cidades, mas sempre tentando chegar o mais próximo possível do limite entre a lucidez e a loucura. Sou obrigado a ser lúcido, mas a loucura me chama, me puxa, me quer. Por isso é que bebo, por isso é que sonho... Repito neste blog uma das frases mais perfeitas de Maiakovski (acho que já postei essa frase aqui) "É melhor morrer de vodka do que de tédio"... Mas mesmo assim tudo é encarado tão burocraticamente... É como se eu precisasse apresentar meus documentos para ter um orgasmo.
De qualquer forma, numa noite mais escura do que o normal, o único teatro de uma cidadela no interior do estado abre suas cortinas. O ator canta A Última Valsa, a atriz saltita como uma gazela excitada, enfim, os dois saem do palco e um arlequim que faz papel de corifeu entra e diz "Isso é tudo, tenham uma boa noite." Eu sou o arlequim. O pobre arlequim de quem nem mesmo os ratos que caminham dentro das rachaduras do teatro vão se lembrar quando dormirem em suas tocas. Lembram do ator, lembram da atriz, lembram da roupa do ator, lembram da roupa da atriz, lembram do cenário, podem até lembrar do sonoplasta! Mas nunca do arlequim, aquele que na verdade, é o que mais carrega a arte no sangue, aquele que é mais expressivo! E é obrigado por um encenador idiota a se apresentar somente com uma fala sem emoção nenhuma.
Mas afinal, é este o trabalho de um arlequim, é este o seu desafio: Surpreender as pessoas fazendo coisas erradas que possam ser mais lembradas do que as coisas certas.
O arlequim é aquele que dança na chuva, canta na rua, declama poesias nas avenidas com calças rotas e meias comidas por traças loucas... É aquele que senta à mesa com chapéu e desdenha os olhares dos burguesinhos etiquetados. É aquele que sabe amar tão bem que ama muitas vezes.